por Cássio Martins
Dando um passo atrás, não estamos ainda falando de música (ritmo, melodia e harmonia). Mas sim do "mistério do som", como Walter Smetak denominava o fenômeno das ondas, vibrações que chegam aos ouvidos, a cabeça.
Estas vibrações podem ser melhor compreendidas, configuradas, sentidas, quando colocadas e também analisadas através do prisma do timbre, da altura, da dinâmica e duração. Neste pequeno texto me detenho a assinatura do som, ou do timbre. Por que? Para justificar minha busca pela combinação de materiais com o objetivo de criar novos sons, ou de re-descobrir velhos sons, primitivos, esquecidos.
O que é timbre? Ou, para começar, a que este nome - timbre - está relacionado? Este nome está ligado ao tipo de material que produz o som. Um exemplo: quando escutamos algo "metálico", é porque este som está saindo de uma fonte composta de níquel, ferro, arame... quando ouvimos algo "aveludado", é porque, provavelmente, este som provém de uma fone composta de madeira, misturada com ar (sopro) tal qual uma flauta de Pan (pequenas colunas de ar).
Como é possível interpretar, esta relação não é totalmente fechada. Existe sempre uma fusão de certa gama de elementos (matérias) que compõe um timbre. Não cabe, portanto, uma abordagem "ideal", tal qual é feita pela física clássica. Cabe um parênteses.
Existe um koan Zen, que diz: "sabemos o som produzido pelas palmas das mãos. Mas qual é o som de cada uma das palmas?"
Então, voltando à nossa análise, no caso de uma flauta de Pan, sabemos o resultado desta combinação: coluna de madeira, somada ao ar que a atravessa e sai pelos seus furos. Mas qual o som exclusivo do ar? Qual o som de uma coluna oca de bambu, quando considerado fora de um contexto? Estes sons ideais, sem fusão e relação permeável, não existem.
Prosseguindo, existem tantos timbres tal como existem tantas combinações de matérias. Exemplos: rochas percurtidas dentro do meio aquático. Qual o som que isso tem? E o som de cordas de guitarra, passando por uma cabaça, percurtidas por varetas de bambu? Qual o resultado de um Beat Box [1] no trânsito de São Paulo, com direito a sirenes, buzinas? Que som produz um contrabaixo elétrico, amplificado, no meio de uma feira?
Extrapolando, cada instrumento tem uma assinatura, um timbre. Será que podemos dizer o mesmo de uma orquestra ou banda? Será que a soma de timbres de um conjunto musical produz uma assinatura própria?
Esta abstração acima vale para pensarmos também que ao mergulharmos no contexto dos timbres, dentro da pesquisa da produção sonora, encontramos uma possibilidade infinita de combinar materiais e produzir novas vibrações, ondas, cenários, climas, contextos e também pensamentos.
[1] No Hip Hop muitas são as pessoas que desenvolvem um som com a voz e com uma caixa de ressonância feita com as mãos (concha acústica). Este método resulta numa possibilidade infinita de produzir ritmos e timbres.
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