20 janeiro 2011

A Rebelião das Crianças em Ljubljana/Eslovênia

Em dezembro de 2008 estivemos em Ljubljana, na Eslovênia, participando de um encontro entre grupos de diferentes partes do mundo que trabalham com arte e educação. O encontro foi promovido por um grupo esloveno chamado Educação Radical.

Neste contexto, apresentamos A Rebelião das Crianças. Além de mostrar o que estamos pensando e fazendo acerca da condição da criança em São Paulo, resolvemos criar alguns encontros para conhecer a realidade deste lugar tão diferente e distante. Conhecemos uma educadora chamada Adela, que é coordenadora do setor educativo da Moderna Galerija de Ljubljana, o principal museu de Ljubljana. Ela desenvolve um projeto muito interessante, chamado "School on The River" [Escola no Rio] que faz parte de um programa maior,"Museum in the Street" [Museu na Rua]. Uma das ações do projeto é criar encontros com crianças imigrantes de vários lugares da Europa do Leste e da Ásia. A maioria dessas crianças veio com os pais, fugindo de situações de desemprego ou guerra.


A Adela nos convidou para participar de um encontro com algumas destas crianças. Inventamos uma atividade para descobrir um pouco sobre como é para estas crianças morar aqui. Cada um teria que mostrar um lugar importante no entorno da escola e os outros teriam que adivinhar o porquê da importância do lugar para a pessoa.

Estavam presentes Tugs, uma menina da Mongólia e Almina, da Bósnia, assim como a educadora Adela, da Eslovenia e todos do grupo brasileiro Contrafilé (Cibele, Jerusa, Joana, Peetssa e Rafael). No começo, as meninas estavam um pouco apreensivas. Diziam: "Nós também somos turistas aqui. Como vamos mostrar para vocês um lugar que não conhecemos?" Para nós, foi uma surpresa. Não esperávamos por isso.


Para quebrar o gelo, Adela foi a primeira a escolher um lugar importante para ela. Ela escolheu um lugar do rio onde ficam ancorados os barcos - na cidade de Ljubljana passa um rio muito bonito. A Tugs achou que a Adela tinha escolhido este lugar porque lembrava ela de alguma história romântica. A Tugs perguntou: "Você já viajou com o seu marido num barco?" Ela respondeu que sim, que ela nasceu, cresceu e conheceu o marido na cidade e que muitas vezes já tinham viajado juntos de barco. Contou também que esse rio é muito importante porque atravessa mais de um país: começa na Sérvia, atravessa a Bósnia e a Croácia, passa pela Eslovênia e desemboca no mar Adriático.

A Joana perguntou se a Adela tinha escolhido o rio porque ele conecta diferentes pessoas e lugares. Ela disse que essa era uma boa idéia. Aí a Jerusa falou: "Já sei! Você fez um projeto de educação chamado 'School on the River'! É por isso!"

Aí, a Adela falou que sim e a Cibele comentou: "Eu achei muito legal essa idéia do rio porque ele atravessa vários países naturalmente, sem fronteiras. Como os pássaros que migram de um lugar para o outro sem ter nenhuma barreira, proibição, polícia, passaporte e preconceito..."


A Almina estava um pouco estranha. Olhava para o barco, ia perto dele, mexia em algo, aí voltava, ouvia um pouco a conversa, e de novo se aproximava do barco. Pensamos que ela não estava prestando atenção. Até que ela desabafou: "É a primeira vez que eu vejo um barco na minha vida!"

Nossa! Que incrível! Perguntamos o que ela estava sentindo. Ela disse que era um pouco assustador, que era muito grande, que ela estava com um pouco de medo. Ficamos impressionados porque ela mora muito perto do rio há 6 meses, e nunca havia ido até lá.

Estávamos nos preparando para nos despedir quando Almina disse que queria nos mostrar um lugar. Primeiro mostrou o Mercator (supermercado) onde ela e sua família fazem as compras. Depois, percebemos que atrás do supermercado tinha uma igreja evangélica. Ela apontou a igreja e a primeira coisa que pensamos foi: deve ser o lugar onde ela pratica sua religião. Mas logo, de novo, mais uma surpresa.


Almina começou a nos contar que ela é muçulmana, assim como sua familia. E que, por isso, ela nunca poderia - e também nem gostaria - de entrar naquela igreja, onde muitos de seus colegas da escola frequentam. Ela explicou que na sua religião não existe igreja, existe mesquita. Ela e sua familia rezam 5 vezes por dia para Alá.

Na mongólia existem 3 religiões: católica, islâmica e budista. Tugs nos contou que ela e sua familia são budistas e que, junto com outros imigrantes, usam uma casa alí no bairro como templo, onde todos meditam juntos. A principal prática do budismo é a meditação.

Jerusa contou sobre o xamanísmo no Brasil, um ritual onde cabem pessoas de muitas religiões. Foi uma conversa muito importante. Almina disse que mesmo com as diferenças religiosas, fora da igreja - na rua e na escola - todas as crianças brincam juntas.



Nenhum comentário: