depoimentos


“Quando eu vim morar aqui, eu estava separada do marido, meus filhos todos pequenos, não tinha nenhum que trabalhava para me ajudar. O dono da casa onde eu morava andava por aqui e descobriu esse barraquinho, que com a ajuda dele eu consegui comprar. Quando eu cheguei, podíamos contar nos dedos os barracos que existiam. Eu só vi a casa quando eu cheguei com a mudança. Me deu um disparo no coração, uma tristeza. Eu pensava ‘como vou criar meus filhos aqui nesse lugar?’ Naquela época era muito perigoso. Eu trabalhava de faxineira em casa de família e não via a hora de acabar o dia, querendo voltar para casa, preocupada com as crianças. A gente usava um poço para pegar água para fazer comida, lavar roupa. As vezes era uma lama, um barro puro. Foi uma vida muito sofrida. Aos poucos foi melhorando. Depois começou o Movimento de Favelas, onde eu me engajei, conseguimos água e luz. Aos poucos foi aumentando a vizinhança, um dava mão para o outro, veio morar gente aqui perto da minha casa, eu comecei a ficar despreocupada, sabendo que eu tinha uma vizinha boa que olhava pelos meus filhos. Foi aqui que eu me aproximei da luta. O padre comprou um barraquinho, onde era a igrejinha da gente, da comunidade, hoje já é uma igreja grande. A tarde eu ia para lá, pedia doação, fazia sopa para as crianças. Quando chegava essa hora, eu via crianças tomando três pratos, não tinha carne nem nada, eram legumes e macarrão que eu engrossava com fubá.”
Dona Carmem, liderança da comunidade Brás de Abreu, importante articuladora no processo de construção do Parque para Brincar e Pensar, 77 anos


“Essa região era cheia de barracos de madeira, a Eletropaulo veio e tirou o pessoal, ficou muito mato, rato. Estávamos perdidos em relação ao que fazer, foi legal que vocês vieram, dando umas ideias. Quando você junta pessoas com a mesma proposta, mesmo fundamento, muitas coisas podem acontecer. Acho que o fundamento maior é a criança, que fica abandonada, jogada, sem ter o que fazer. E principalmente eu, que não tive infância, tive que trabalhar muito cedo, quero sempre melhoria para meus filhos e netos. Brincar é uma fase muito importante, brincando você vai interagindo com outras crianças, construindo caráter e até responsabilidades, por que não? Socialmente, na convivência, vai pegando experiência e se formando como pessoa.” 
José Zito Almeida Viana, morador da comunidade Brás de Abreu, 43 anos


“Eu estou gostando muito do que todo mundo está fazendo aqui, o campinho, as brincadeiras que estão acontecendo, todo mundo está limpando, todo mundo está ajudando para a coisa andar mais rápido e todas as crianças brincarem. Tinha rato, quase que a gente era mordido, e hoje está legal, esse parque vai ficar ‘da hora’! Eu estou aprendendo músicas, a fazer instrumentos, inventando coisas mais bonitas, ajudando todo mundo.” Lucas, 13 anos


“Quando eu brinco, eu penso em coisas boas, penso que não tem nada, tem só eu no mundo e eu estou parado, brincando, sendo feliz. Por exemplo, “pega-pega”, que tem que correr, é uma brincadeira divertida, você só pensa em você e na pessoa que está atrás de você, tentando te pegar, você não pensa nas coisas ruins que você já viveu, não tem nenhum adulto para falar que isso é errado. As crianças não podem ser exploradas, tem que aprender a se divertir. Para mim, Rebelião das Crianças é ter um mundo melhor, não só pensar em trabalhar. Todo dia a gente assiste TV e passa uma criança morta. Não pode, a criança tem que ser feliz, tem que ser livre, para criar as coisas e também brincar. Eu acho legal criança e adulto junto por que o adulto vai pensar na criança que está ali, ajudando ele, brincando, vai pensar em dar mais valor às crianças. Eu sinto que a minha mãe está diferente, ela quer um mundo melhor para mim e para meus irmãos. A gente tem que continuar fazendo essas coisas, que o mundo vai ficar muito melhor do que está.” Sérgio, 12 anos


“Boa tarde senhoras e senhores, estamos fazendo um Parque para Brincar e Pensar, com meus amigos, também meus companheiros. Estamos muito orgulhosos e queremos que todos participem dessa grande festa! Eu quero falar sobre o “Escala-Escala”, que está muito presente. A quadra também ficou muito bonita! É uma vida nova que começamos a realizar. Essas gramas plantadas, o lixo que era isso, virou paisagem. Minha casa é aqui, do lado da quadra, do Parque”. André, 8 anos


“Ontem, já era mais de 22h, eles estavam correndo pelo Parque, a criançada na maior alegria, minha filha chamou os meninos para dormir e eles disseram, chorando, ‘não, mãe, agora que temos um lugar para brincar!’ Me chama a atenção a união de vocês, a coragem de largarem as casas de vocês para virem trabalhar com isso”. Dona Carmem

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