20 fevereiro 2011

1ª reunião com a comunidade: apresentações e desejos

Neste sábado fizemos a 1ª reunião com a "comunidade da Dona Carmem" - que aconteceu dentro da Igreja. Estavam presentes: Contrafilé, Mauro (morador do Jd Miriam e parceiro do Jamac), Pedro (morador do Jd Miriam, arquiteto e integrante do grupo EPA) e Marina (estudante de arquitetura e integrante do grupo EPA), Macarrão (voluntário), Sueli, Maria José, Eliane, Idelcina, Maria, Adilza, Fran, Angelina, Marcela, Cida, Isabela, Ana Gleice, Vânia e várias crianças da comunidade.



Montamos um "ambiente alfabetizador" com imagens de trabalhos do Contrafilé, JAMAC e de outros grupos e artistas, como: Frente 3 de Fevereiro, Radek, Etecétera, Política do Impossível, Peetssa, Jailtão, Mariana Cavalcante. Também selecionamos referências de brinquedos e projetos que pensam a criança.



Para uma rodada de apresentações, sugerimos que cada um falasse seu nome e escolhesse uma das imagens expostas, que tivesse lhe chamado a atenção.




Sueli, Maria José, Idelcina, Maria e Pedro se apresentaram a partir desta ação:

 "Me roubaram o direito de ser criança" - performance do jovem Ederson, realizada no "Ato contra a tortura na Febem", elaborado pela AMAR em parceria com o Contrafilé em 2006. A performance foi inspirada na ação "Quem representa o povo?", da artista Mariana Cavalcante, que colaborou com o Ato.
Cida se apresentou a partir destas imagens, que a fizeram lembrar de quando vai para o interior e, ao ver sua filha Isabela brincando, reconhece nela uma criança diferente da criança que ela é na cidade:

A Rebelião das Crianças na Praça da Sé, Contrafilé, 2005
Acervo de referências do Contrafilé

Joana, Vânia e Rafael escolheram a intervenção "Um Modelo para uma Sociedade Qualitativa", realizada em 1968 em um museu da Dinamarca pelo artista Palle Nielsen, que estuda brincadeiras infantis:


Marina, Isabela e Macarrão se apresentaram através destes brinquedos:



 Acervo de referências do Contrafilé

Cibele se apresentou a partir deste cartaz, criado pelo Contrafilé:
Eliane se apresentou a partir da ação "1 minuto de silêncio", realizada pelo Contrafilé em 2004, contra o assassinato de moradores de rua:


Adilza, que participa de encontros do Movimento Negro, escolheu a bandeira "Brasil Negro Salve", da Frente 3 de Fevereiro. Mauro, a bandeira "Zumbi Somos Nós" na ocupação Prestes Maia, ação do mesmo grupo:



Angelina, que trabalha como carroceira, Marcela que vê seu sofrimento e Ana Gleice, se apresentaram a partir deste trabalho do JAMAC na praça do Jardim Miriam, 2006:


Fran escolheu uma "enigmática" (como ela disse) imagem do grupo Política do Impossível:

"Traga sua Luz", intervenção contra o processo de gentrificação do bairro da Luz/Cracolândia/SP, 2008

Peetssa escolheu uma intervenção que ele realizou:
Esta rodada gerou um bate papo sobre os trabalhos apresentados, suas urgências, contextos, grupos, formas, símbolos. A partir daí, começamos a mergulhar em nossas memórias de infância - compartilhamos brincadeiras de antigamente: "Estrela Nova Sela", "Porta Bandeira", "Pau de Sebo", "Campinho"; brincadeiras de hoje: "Pancadão", "Polícia e Ladrão" e lembramos como eram os espaços que contornavam as brincadeiras do passado, o que tinham de mágico, protegido, infantil.
Em um terceiro momento, cada um foi convidado à registrar seus desejos para o Parque para Brincar e Pensar, que será construído coletivamente no terreno desapropriado pela Eletropaulo para a instalação de torres de transmissão de energia.




E surgiu a seguinte cartografia de desejos para este espaço:






















 Fernanda mostrando os balanços do seu desejo

07 fevereiro 2011

Campos magnéticos de linhas de transmissão ameaçam saúde da população

Júlio Bernardes - Agência USP




Mais de 150 mil moradores da cidade de São Paulo estão expostos a campos magnéticos gerados por linhas de transmissão aérea de energia elétrica em níveis que podem provocar riscos à saúde humana.
A estimativa faz parte de uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que mapeou as áreas do município mais expostas e as características da população afetada. O estudo aponta que as regiões de maior exposição apresentam baixos níveis de escolaridade e renda entre os moradores.

Campos magnéticos que fazem mal à saúde
O geógrafo Mateus Habermann avaliou a prevalência de exposição aos campos magnéticos na população da cidade de São Paulo. "Foram consideradas áreas expostas aquelas com campo magnético igual ou superior a 0,3 microtesla, nível apontado na literatura científica como de risco estatisticamente significante de leucemia infantil", aponta.

Ao mesmo tempo, o pesquisador verificou as diferenças socioeconômicas entre as pessoas expostas e não expostas. "O estudo se baseia na ideia de Justiça Ambiental, surgida nos Estados Unidos, onde se constatou que populações marginalizadas eram mais sujeitas a riscos ambientais".

A análise das informações sobre os 572,1 quilômetros de linhas de transmissão na cidade de São Paulo mostra que as áreas mais expostas aos campos magnéticos formam um corredor ao longo do percurso das linhas, abrangendo uma área de 25 quilômetros quadrados. Conforme as dimensões e características técnicas das linhas de transmissão, esses corredores apresentaram entre 50 e 130 metros de largura.

"A extensão é maior do que as áreas de servidão, espaços reservados exclusivamente para a passagem das linhas", ressalta Habermann. A população que vive nos corredores é estimada em 152.176 habitantes (1,4% da população de São Paulo), em 40.677 domicílios (1,3% da cidade), com base nos dados do censo demográfico de 2000.

Mais jovens e mais pobres
A partir das informações socioeconômicas das áreas expostas, a pesquisa mostra que a prevalência aos campos magnéticos diminui conforme aumenta a idade da população. "Aproximadamente 46,6% das pessoas nesses locais tem menos de 24 anos", conta o geógrafo.

Dentro dos corredores, 48% da população não tem instrução ou menos de cinco anos de estudo. "Um terço dos chefes de domicílio que vivem nas regiões expostas não possuem renda ou ganham menos de dois salários mínimos".

Doenças causadas pelos campos elétricos
A mesma metodologia usada no estudo da Capital paulista foi aplicada nos demais municípios da Grande São Paulo, apresentando resultados semelhantes. "Em outra pesquisa da FMUSP, comparou-se a distância da residência de pessoas que faleceram de leucemia, câncer no cérebro e neoplasias do sistema nervoso central em relação às linhas de transmissão", relata o pesquisador. "os resultados mostraram que o risco de leucemia entre pessoas com mais de 40 anos é maior em áreas situadas a 50 metros das linhas de transmissão".

O estudo de Habermann faz parte de um projeto de pesquisa sobre linhas de transmissão de energia, coordenado pela Associação Brasileira de Compatibilidade Eletromagnética (Abricem). Denominada EMF-SP (de Electromagnetic Fields, campos eletromagnéticos, em inglês), a iniciativa reuniu pesquisadores de diversas instituições, como a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O trabalho do geógrafo, descrito em sua dissertação de Mestrado, teve a orientação do professor Nelson Gouveia, do Departamento de Medicina Preventiva da FM.

O EMF-SP foi financiado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e as conclusões dos estudos foram encaminhadas para as concessionárias de serviços de eletricidade. "Fica a critério delas fazer as mudanças necessárias para diminuir a intensidade do campo magnético emitido pelas linhas de transmissão aéreas", aponta Habermann. Sugere-se que os campos magnéticos podem ser mais um fator de risco que a população socioeconomicamente mais vulnerável está exposta, assim como outros problemas urbanos como poluição do ar, inundações, proximidade de aterros sanitários, entre outros.

02 fevereiro 2011

Fantasias

Quando entramos no local imaginado por Mônica e Mauro como futuro Parque para Brincar e Pensar, logo depois da casa da Dona Carmem, tivemos a sensação de atravessar um Portal. Aquele espaço vazio de casas, cheio de mato, esgoto a céu aberto, torres de alta tensão e muitas crianças, fez com que cada um de nós imaginasse algumas coisas. Estas são nossas primeiras fantasias, que agora serão somadas às de cada adulto e criança ali presentes, para começarmos o desenho do Parque.


Joana:  Eu vi o caminho usado pelas crianças para irem à escola se transformando em um caminho bonito, colorido, mágico. Ví os muros todos cheios de plantas, latas virando vasos. Vi todo mundo trabalhando junto, crianças e adultos - os adultos olhando para crianças de uma outra forma e vice versa. Vi um escorregador, uma tirolesa, um brinquedo radical ali no meio. Em fim, vi uma praça florida e o potencial de transformar um lugar.


Cássio: Eu vi um jardim, com hortas, uma roda de capoeira acontecendo, todos trabalhando juntos movidos por música, ouvi Jorge Ben tocando. Vi um cinema, a céu aberto, em baixo do maracujá, com telão, cadeiras, pipoca, suco e crianças assistindo Kiriku e a Feiticeira e outras histórias.


Rafael: Eu vi no espaço caminhos que possibilitem diferentes formas de circulação. Você poder ir rápido, ao mesmo tempo em que alguém pode circular devagar. Imaginei espaços como lugares de diferentes saberes e práticas, ao mesmo tempo interligados. Vi diferentes camadas de leitura e movimento neste espaço. Você pode jogar no território inteiro, como um tabuleiro, ou pode também submergir num dos espaços: um lugar de recuperação de águas, uma horta, lugar para plantas medicinais, uma rádio comunitária. 


Cibele: Eu vi o lugar se transformando em um grande percurso cheio de paradas, pontos mágicos. Um lugar para plantar e colher, outro para tratar a água, outro para olhar para cima, outro para balançar, para falar, ouvir. Imaginei num dos pontos um brinquedo de cordas, tramas, com alguns pneus presos, formando uma "cama", onde pode-se deitar e olhar o céu. Imaginei a Rádio Poste, que o Mauro faz na Praça do Miriam, com uma sede ali. Imaginei a construção de todos esses pontos acontecendo ao mesmo tempo, crianças e adultos circulando.

Peetssa: Eu vi o Parque trabalhando a saúde no sentido amplo, da relação com meio ambiente, 2 ou 3 caixas d'água sendo usadas para tratar o esgoto, uma área meio alagada, com Helicônias, Lírios e outras plantas usadas para isso, o entulho local servindo para o tratamento, uma composteira. Vi 4 hortas suspensas, uma em cada canto, vi uma ponte de madeira, japonesa, por cima do rio. Vi até uma biquinha com peixes. Em frente a casa da Dona Carmem, vi uma bandeira com um símbolo, marcando a entrada do Parque.


Mauro:  vejo a possibilidade de aproveitar a geografia do lugar para construirmos coisas - brinquedos, horta (que eles já tem experiência) etc. Penso na importância dos temperos, árvores frutiferas, bananeiras, goiabeiras, pitangueiras... árvores como lugares de brincadeira. 


Mônica: vejo o esgoto limpo e um espaço para capoeira, um tablado ou deque, espaço para as crianças estarem e brincarem.